The Crow

"Pessoas acreditavam que quando alguém morria um corvo carregava a alma para a terra dos  mortos. E às vezes, só as vezes o corvo pode trazer a alma de volta para consertar as coisas, o direito de coisas."

 

 

 

Em A Bruxa de Blair o medo é apresentado na primeira pessoa. Três jovens cineastas são atirados para dentro de um pesadelo vivo e uma câmera que registra exatamente o que eles vêem - nada mais, nada menos - transmite todo o terror que sentem e sua progressiva perturbação. É o tipo de terror que invoca reações humanas básicas: desorientação, pânico, medo de se perder para sempre, fome e o pavor de imaginar que nunca poderá sair vivo.

Criado por cinco entusiastas de cinema e aficionados pelo cyberspace que, em Orlando, na Flórida, são conhecidos como Haxan Films, A Bruxa de Blair é também singular em um outro aspecto. Num verdadeiro esforço de colaboração, os realizadores principais, Ed Sanchez, Dan Myrick e Gregg Hale, fizeram um trabalho em conjunto de verdade, dividindo as funções e alternando seus papéis. Myrick conta: "Compartilhamos as tarefas o tempo todo e isso foi muito importante numa filmagem experimental como esta. Inicialmente, Ed e eu escrevemos a idéia que imaginamos quando ainda estávamos na escola de cinema, e Greg deu suas sugestões. Durante as filmagens, eu seguia os atores na floresta, Ed ficava lá atrás fazendo observações sobre o desenvolvimento da história e nós três assistíamos às fitas de cada dia para planejarmos o dia seguinte. Por último, Ed e eu fizemos a maior parte da montagem".


Rob Cowie e Mike Monello juntaram-se a eles durante a pós-produção, mas já existia uma forte ligação nesse grupo de cinco elementos devido aos trabalhos que fizeram juntos nos primeiros anos do programa de cinema da University of Central Florida. Como o programa da escola era novo, os cinco amigos tiveram um espaço incomum para explorar cada aspecto da produção cinematográfica. Durante os cinco ou seis anos depois de que se formaram, cada um deles teve suas próprias experiências profissionais.


Para tornar A Bruxa de Blair uma experiência notavelmente singular, os criadores do filme utilizaram uma técnica muito incomum e muito arriscada: "método de filmagem". O objetivo era alcançar uma sensação de extremo realismo imitando as imperfeições e o caos de um documentário de alto impacto. Como os personagens estão rodando um filme, os atores treinaram o trabalho de câmera durante dois dias e depois foram deixados por conta própria.

 Normalmente, o nosso consciente nos distancia do medo extremo. Porém, se pudéssemos enfraquecer os atores mental e fisicamente, no final do filme, quando coisas realmente intensas estão acontecendo, eles entrariam em contato com uma parte da psique que normalmente não tocamos. O 'distanciamento' seria anulado e eles reagiriam de uma forma mais primitiva".


Durante as filmagens, os atores foram seguindo todos os pontos pré-determinados, encontrando-se com atores que já estavam planejados para encontrar (e com civis que não estavam planejados) com quem realizaram cenas improvisadas. A direção ficou limitada a anotações que eram passadas aos atores ao longo do caminho.
Isso foi bastante fácil durante os dois dias em que os atores ficaram na cidade. Tudo tornou-se mais complicado quando entraram na floresta do Seneca Creek State Park, de Maryland. No meio da mata, os atores tiveram que depender de um aparelho portátil de localização GPS (NT.: Sistema de Posicionamento Global) para explorarem a floresta e a equipe de produção também usou o GPS e o antigo, mas eficaz, método de perseguição para seguir a trilha deles. Observações, comida e equipamentos eram fornecidos em cestas marcadas com sinais luminosos para serem vistos à luz do dia.


Embora os atores tenham compreendido antes do tempo a natureza geral do que estavam fazendo, eles não foram avisados com antecedência dos pormenores. Ao contrário, entraram pela floresta reagindo aos estímulos enquanto filmávamos e gravávamos. A precisão do GPS permitiu que a equipe de produção manobrasse os atores exatamente para onde a história exigia. Para encenar os problemas noturnos do grupo, a equipe de produção teve que movimentar-se silenciosamente e invisivelmente através da floresta pelo escuro - às vezes, andando um quilômetros e meio, ou mais - usando lanternas infravermelhas.


Conforme a história progredia, o cenário mudava para acrescentar ainda mais realismo: era necessário que os atores fossem mais e mais longe a cada dia e, sempre, com menos comida. Quando os atores alcançaram a casa que serviu de locação para o clímax do filme, eles estavam realmente cansados física e emocionalmente. Mas os riscos do "método de filmagem" valeram a pena: o terror nas atuações dos atores teriam sido difíceis - se não impossíveis - de se obter se utilizassem qualquer outra técnica.


Engenhoso em suas técnicas de filmagem, A Bruxa de Blair também quebra as regras dos personagens convencionais dos "filmes de terror" - principalmente no que se refere a Heather. Sem nenhuma semelhança com um cordeiro passivo sendo conduzido para o matadouro, Heather é uma diretora determinada responsável por todo projeto e por guiar a equipe numa jornada cada vez mais traiçoeira.

Embora os realizadores de A Bruxa de Blair pudessem ter optado por uma abordagem mais tradicional de filmagem, eles escolheram a "ingenuidade". Acima de tudo, o projeto é uma visão do futuro: ao vincular um filme a uma Website, as duas mídias estão ligadas num tipo de relacionamento simbiótico. E o público está convidado a entrar num mundo inventado que engloba a tela grande e vai além dela.

 

Chris & Lui

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